Tarot~~Espelho da Alma~~

ESPELHO DA ALMA*LINGUAGEM DA LUZ

sábado, 21 de dezembro de 2013

(VII) A Carruagem / O Carro

O Carro simboliza o caminho, o movimento, a luz astral. Representa a superação das provas, o impulso e o entusiasmo, a capacidade de se desprender do passado, a busca de uma nova energia que se encarregue de mudar o presente, a luta do guerreiro, audaz e corajoso, em direção à vitória. Indica atenção e domínio, para manter firmes as rédeas.

Litha - Lendas, Mitos e Mistérios do Solstício de Verão



Litha ou Solstício de Verão, é uma comemoração que tem sido celebrado ao longo dos séculos, de uma forma ou de outra. Isso não é nenhuma surpresa, mas há muitos mitos e lendas associadas a esta época do ano!

Na Inglaterra, os moradores rurais construíam uma grande fogueira na véspera do Solstício de Verão. Isto foi chamado de "acertar o relógio", e era sabido que o fogo iria manter os maus espíritos para fora da cidade. Alguns agricultores acendiam um fogo em suas terras, e as pessoas perambulam, segurando tochas e lanternas, a partir de uma fogueira para a outra. Se você pula uma fogueira - você estava garantindo uma boa sorte para o próximo ano.
Após acabar o fogo de Litha, junte as cinzas, esperando esfriar, e use-as para fazer um amuleto de proteção.
Você pode fazer isso, levando-os em uma bolsa pequena, ou amassando-as em um pouco de argila mole e formando um talismã. Em algumas tradições da Wicca, acredita-se que as cinzas de Verão irá protegê-lo das desgraças. Você pode também lançar as cinzas de sua fogueira em seu jardim, e suas colheitas serão abundantes para o resto da temporada de plantio.
Acredita-se que em algumas partes da Inglaterra, que se você ficar acordado a noite toda na véspera do Solstício de Verão, sentado no meio de um círculo de pedra, você vai ver as Fadas. Mas tenha cuidado - leve um pouco de arruda no bolso para mantê-las longe de assédio, ou virar o seu casaco de dentro para fora para confundi-lo
Moradores de algumas regiões da Irlanda dizem que se você deseja que aconteça algo, dê uma pedra as fadas. Leve uma pedra em sua mão, fique em frente à fogueira, e sussurre o seu pedido para a pedra - "curar minha mãe" ou "me ajude a ser mais corajoso", por exemplo. Dê três voltas ao redor do fogo e atire a pedra nas chamas.
Astrologicamente, o Sol está entrando em Câncer, que é um signo de água. Verão não é apenas um momento de magia de fogo, mas de água também. Agora é um bom momento para trabalhar a magia que envolve os sagrados córregos e poços. Se você visitar um, não deixe de ir um pouco antes do nascer do sol em Litha, e se aproxime da água a partir do leste, com o sol nascendo. Círcule o poço três vezes, em sentido deosil, e depois faça uma oferta de moedas de prata ou de pinos.



Rodas solares foram utilizados para celebrar Verão em algumas culturas primitivas Pagan. Uma roda - ou às vezes uma bola muito grande de palha - era incendiada e rolada colina abaixo, para o rio. Os restos queimados eram levados para o templo local e colocado em exibição. No País de Gales, acreditava-se que se o fogo acabasse antes que a roda chegasse na água, uma boa colheita estava garantida para a temporada.
No Egito, a temporada de Verão foi associada com a inundação do delta do rio Nilo. Na Na América do Sul, barquinhos de papel era cheios de flores, e depois incendiados. Eles navegavam pelo rio, carregando orações aos deuses. Em algumas tradições do paganismo moderno, você podia se livrar dos problemas, escrevendo-os em um pedaço de papel e mergulha-lo em um corpo em movimento, na água.
William Shakespeare associa à bruxaria em pelo menos três de suas peças. A Midsummer Night's Dream, Macbeth e A Tempestade, todos contêm referências à magia na noite do solstício de verão.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Astrologia, Psicologia e Tarô

Decans_
Uma Perspectiva Arquetípica
 Centro Brasileiro de Psicologia Analítica
Coordenação: Prof. José Raimundo Gomes
Elaboração:
Luiz Roberto Delvaux de Matos
“O importante é que a morte nos encontre vivos”
Marcello Marchesi
 I – Introdução
 Este trabalho começou a ser desenvolvido ao deparar-me com a Cabala Hebraica. Na sua concepção, a Árvore da Vida possui 32 caminhos descritos no Sepher Yetzirah – o Livro da Criação:
“Jah criou o Universo em 32 caminhos misteriosos de sabedoria, consistem numa década fora do nada (vindo do nada) e 22 letras fundamentais.”
A década ou dez “Sephiroth” são simbolizadas pelos 2 luminares – Sol e Lua – e os 8 planetas. As 22 letras fundamentais referem-se aos 22 caminhos da Árvore da Vida ou Arcanos Maiores.
Sempre me intrigou o inter-relacionamento entre símbolos astrológicos, Arcanos Maiores e suas funções psicológicas.Carl Jung exprimiu assim a relação entre o Ego e o Si – mesmo:
“O ego mantém com o Si – mesmo a mesma relação que há entre o elemento movido e o elemento que se move… O Si – mesmo… é uma existência a priori da qual surge o ego. Ele é por assim dizer, uma prefiguração inconsciente do ego.”
Assim pude através de processos dedutivos concluir que os planetas e luminares são uma representação do ego em seus estágios de busca de significado (mapa natal e trânsitos), enquanto que os signos, na sua fixidez exprimem uma representação do Si – mesmo para aquele indivíduo específico. Os planetas (ego) foram criados à imagem e semelhança dos Signos (Si – mesmo).
Também os Arcanos Maiores guardam uma relação com o eixo ego-Si-mesmo. O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a relação dos símbolos astrológicos e os do Tarô, entendendo o significado psicológico de cada um. Também conhecer de forma mais detalhada, de um ponto de vista tarô-psico-astrológico, a relação paradoxal do ego e do Si mesmo.
 II – O Início e o Fim da Caminhada
Antes de iniciar sua caminhada heróica, o Ego está num estado indiferenciado. Corresponde à totalidade urobórica da consciência, encontrada na criança logo após o nascimento. É a união com os “pais do mundo”. Esta representação é feita pela mãe como um ser andrógino com pênis e seios. Esta indiferenciação é expressa pelo masculino e o feminino, unidos de forma arcaica.
O exercício do poder e a onipotência são características ligadas à personalidade arcaica. Aqui é importante considerarmos a casa 12, Netuno e o signo de Peixes. O herói freqüentemente apresenta deformações psíquicas ligadas ao simbolismo do tema da ultrapassagem do “métron”. A sua tarefa é sair da desmedida e encontrar sua verdadeira medida.
Netuno é o Louco, o Arcano 0 (zero), um andarilho e imortal. É um dos mais poderosos trunfos do Tarô. O seu potencial para a criação e a destruição, para a ordem e a anarquia, reflete-se no modo como é apresentado. Entretanto, também veste o traje convencional do “bobo da corte”, a indicar que ocupa um lugar aceito dentro da ordem reinante.
Em nossa jornada para a individuação, o Louco influencia as nossas vidas. A sua curiosidade impulsiva impele-nos para sonhos impossíveis, ao passo que sua natureza folgada tenta nos atrair de volta aos dias de nossa infância. Sem ele nunca empreenderíamos a tarefa do autoconhecimento, mas com ele estamos sempre tentados a vagabundear à beira da estrada.
Visto que ele é parte de nós mesmos, destacada da consciência do ego, nos prega peças: as escorregadelas embaraçosas da língua e os lapsos inconvenientes da memória.
O poder do zero é inerente à sua forma circular. Um círculo com um ponto no centro é o sinal universal para indicar o Sol. O homem está ligado ao movimento circular (fluir da corrente sanguínea, respiração). O círculo reflete a forma dos eternos planetas. Simboliza também o Jardim do Éden, o paraíso. Representa ainda o ventre feliz, antes do conhecimento dos opostos. Expressa a Uroboros, a serpente arquetípica de duas cabeças. Sua forma circular representa o estado original, o ventre antes da criação dos opostos e também, a união dos opostos, desejada no fim da jornada.
 III – A Totalidade se expressa no Ego (ou a relação com o Ascendente)
 Na casa 12 encontramos o “temenos originalis”, receptáculo de energias antigas, provenientes do útero, correspondentes à fundação do mundo. A criação da consciência e a fundação do mundo, formam aspectos de um mesmo fenômeno, pois o mundo só existe quando há algum tipo de consciência que o perceba. A consciência é a aquisição de um ponto fixo, uma espécie de centro que orienta a percepção. Na Astrologia, corresponde ao ponto astrológico e na alquimia, ao ponto alquímico, origem de toda a vida. Antes do nascimento da consciência, o mundo e o eu estão unidos.Este ponto fixo representa o início da ordenação no mundo, que estabelece a diferenciação dos opostos.
A indagação é a quebra desta comunhão paradisíaca. A resposta é a saída do estado de ingenuidade, é a percepção do objeto. Na casa 1, o psiquismo está sob o domínio do prazer, onde qualquer coisa desejada é simplesmente alucinada. O desenvolvimento do ego e da consciência é determinado por um impulso do inconsciente (desejo de expressão) que leva ao estabelecimento da relação com o outro.
No tarô, temos a figura do MAGO que pode nos colocar em contato com o Grande Círculo da Unidade ou pode ajudar-nos a separar-lhe os elementos para exame. Esta separação é uma operação difícil e requer bastante concentração.
O MAGO do Tarô de Marselha segura uma varinha numa mão e na outra uma moeda de ouro. A mão é essencial para todas as mágicas. Simboliza o poder do homem de domar (através da vontade) e afeiçoar a natureza conscientemente, de canalizar-lhe as energias para um emprego criativo. Mais rápida que o olho, sua mão cria a ilusão mais depressa do que a mente pensante é capaz de segui-la (para o talento ou para o engano).
Os objetos em cima da mesa são:
- O cutelo, que lembra a Espada, símbolo dos esforços, das dificuldades, das lutas;
- As moedas, representando o Ouro, símbolo das aquisições e das obras por realizar;
- O copinho, substituindo a Copas, símbolo do amor, das paixões e do sacrifício;
- A varinha, na mão, representação de Paus, símbolo da energia material, completa os quatro elementos do Tarô.
O eu (ego) é o centro da consciência. Possui livre-arbítrio, mas dentro dos limites do campo da consciência. Marte possui uma órbita média de 22 meses em torno do Sol. Se computarmos os 9 meses de gravidez com o primeiro ano de vida do indivíduo, teremos 21 meses. Este é o tempo de formação do eu. Pelo estado de indiferenciação do ego com o Si – mesmo, o Mago simboliza esta união.
IV – Fase matriarcal dominada pelo arquétipo da mãe ou o conhecimento da sizígia anima/animus
 Através da função maternal de compensação e apaziguamento, a criança experimenta uma relação integral positiva com a mãe. Nesta fase, o ego e o Self já não se encontram mais ligados como mãe e filho, mas o Self e a mãe constituem o solo para essas raízes.
Esta é a fase do desenvolvimento em que a personalidade da criança torna-se relativamente independente e o ego mostra-se numa grandeza contínua. O ego infantil experimenta a forma da personalidade total.
A percepção dos estados de prazer e desprazer representa o rompimento inicial do estado de totalidade. Nesta fase, a ênfase é colocada na alimentação. A mãe é ainda sentida como seio doador de alimento e prazer. O leite é alimento, mas também agente fecundador. A mãe apresenta os aspectos maternal e fálico. Quando surge o aspecto fálico do seio, ocorre o sinal anunciador de diferenciação dos opostos: masculino e feminino. Segundo Freud, esta fase é provocada por dois instintos, o de vida e o de morte. O mundo emergente pode ser todo bom ou todo mau. É comum o sentimento de medo, de impotência e de desamparo.
Se o ego for negativizado neste período, a consciência centrada em torno deste ego torna-se rígida (teimosia), havendo uma tendência para investir-se contra o mundo e contra o Self.
Na astrologia, a casa dois contém os princípios básicos ligados à alimentação. Vênus, regente do signo de Touro, é o prazer, mas também a necessidade. Rege o estômago. O arquétipo da Grande Mãe representa o cuidado e também a frustração, a negação e o abandono.
No tarô, o ENAMORADO (Arcano VI) é a primeira carta que mostra um ser humano comum que enfrenta o mundo e suas escolhas. Precisa encontrar dentro de si mesmo, a força para enfrentar seu dilema. Assumir sozinho a responsabilidade por qualquer ação.
Na carta aparece uma figura triangular: um homem (consciência) e duas figuras femininas (aspecto do corpo e alma-emoção). A mulher da esquerda tem a mão possessivamente colocada no ombro do moço. A loira, à direita, toca-lhe mais perto do coração. Acima dos três, um arqueiro alado também visa ao coração do jovem.
O Cupido na carta é o deus Eros (o desejo). O seis da carta é retratado como uma estrela de seis pontas. O espírito masculino (consciência) deve juntar-se à emoção feminina. Uma estrela para guiar o herói.
A estrela de seis pontas é o símbolo de Salomão. Representa o casamento místico de Shiva e Shakti. O que é interno possui a capacidade receptiva para aquilo que é externo. É a carta do livre-arbítrio.
Vênus representa o nosso desejo. Também as nossas escolhas. Na psicologia analítica é a nossa imagem de anima (alma) /animus (razão).
V – A quebra da totalidade – a Persona
 O rosto da mãe funciona como um espelho, que leva a consciência a perceber a presença da mãe distinta da sua (a primeira persona percebida pelo indivíduo-bebê). As raízes mais profundas da individualidade estão no corpo. As primeiras percepções que o ego tem de si mesmo são corporais. O desenvolvimento do ego é acompanhado pelo desenvolvimento da percepção do outro como um objeto. Freud diz que o ego é também um ego corporal. O contato com as necessidades corporais é a matriz da individualidade.
A casa três de um mapa astrológico indica a forma como nos relacionamos com as pessoas mais próximas. É a casa dapersona e o signo que a rege indicará a qualidade de nossa comunicação. Aqui se estabelece a função mercurial. Nesta casa ocorre o “espelhamento”, a quadratura (90 graus) com a décima segunda casa. A presença da mãe como espelho para a existência psíquica da criança é fundamental para que esta se reconheça como sujeito.
O PAPA é o Arcano V do Tarô. Na correspondência simbólica com a astrologia ele é o planeta Mercúrio (o Pontífice).
O PAPA está emoldurado por dois homens ajoelhados à sua frente e pelos dois pilares erguidos atrás (número cinco). Personifica a luta do homem pela conexão com a divindade. Assim como o instinto sexual, o impulso religioso visa unir os opostos. Como símbolo desta unificação, o PAPA é andrógino, une em sua pessoa os elementos masculinos e femininos.
A função do PAPA consiste em tornar acessível ao homem o mundo transcendental, até aqui alcançado apenas pela intuição. Ele é chamado “a face visível de Deus”.
Os dois personagens aos seus pés simbolizam o dualismo das forças que se voltam para o bem ou para o mal, conforme se desligam da matéria ou nela mergulham.
Os dois pilares atrás do PAPA representam a ascensão da ação (pilar direito) e do sentimento (pilar esquerdo). Quando estes dois pólos se equilibram, colocam-se sobre uma base sólida que os torna inabaláveis.
Existe uma correspondência do PAPA com a respiração. Esta é a base dos processos vitais do organismo.
Mercúrio é considerado na psicologia alquímica como o psicopompo, o pontífice entre o céu e a terra. É nosso processo comunicador que dá origem à consciência e à capacidade de se relacionar. Quando a consciência surge, começa a dividir a realidade unitária em uma realidade polarizada de sujeito e objeto.
No desenvolvimento da consciência, que leva do arquétipo da mãe para o arquétipo do pai, o ego ganha independência gradualmente. Começa a levar uma existência própria. O papel da consciência do ego é levar as reações coletivas do inconsciente, com sua orientação para o mundo.
O Arcano VII – O CARRO está simbolicamente ligado ao signo de Gêmeos.
Um jovem e vigoroso rei vestido de suas insígnias reais e de uma coroa de ouro em seu carro – Curriculum Hermetis (a Carruagem de Hermes).
O carro é um veículo de poder e conquista em que o herói pode viajar pela vida a fim de explorar suas potencialidades e por à prova suas limitações.
A jornada exterior é um símbolo de nossa compreensão interior, um veículo para nosso auto-descobrimento.
Atrás do carro vemos duas rodas problemáticas. Dessas rodas e tudo o mais que há embaixo, o rei parece inconsciente. Aqui existe a necessidade (Gêmeos e a terceira casa) de ser prático e objetivo. É como se em nós houvesse a obrigação de se fazer um “mea culpa” por uma antiga vida teórica.
Os dois Arcanos – O PAPA e O CARRO – nos falam de nossa necessidade de relacionarmos e conduzirmos o nosso processo objetivo de vida.
VI – O Ego Ferido (a descoberta da Sombra)
 A incompletude, a percepção da falta é a grave ferida do ego. É determinante para a continuidade ou cessação do desenvolvimento da personalidade. É o momento de o Ego começar a se reconhecer separado do outro, o reconhecimento do Tu. A percepção da quebra da totalidade dá origem à dificuldade de lidar com todos os aspectos que surgem desta percepção, como a raiva e a inveja. Há uma tendência a desvalorizar tudo o que recebe e a destruir a capacidade de prazer. A inveja leva a produção da voracidade e da ganância, a acumular para não faltar, pois o ego se encontra empobrecido esvaziado.
A vivência da gratidão no relacionamento é sinal que o indivíduo superou este estado. A superação só é possível pelo reconhecimento da ferida, isto é, da incompletude.
A quarta casa representa a nossa ferida, o Fundo-do-Céu. É a nossa limitação (nosso calcanhar de Aquiles). Nesta casa é necessário conhecermos a limitação do ciclo do tempo. A Lua nas suas quatro fases expressa mensalmente este limite.
O Arcano II – A PAPISA se relaciona com a Lua. Representa a natureza com suas riquezas misteriosas, que o homem deve desvendar e interpretar. Ela pode ser considerada como a Esposa Divina, por suas possibilidades de gerar eternamente e de criar as realidades ilusórias de Maya.
A veste (vermelha) indica as paixões dominantes. O manto (azul), a espiritualidade – consciência – realizada de si, eclipsando as paixões. O livro aberto mostra que a mulher, como representação do princípio feminino, traz em si o conhecimento da natureza. Seus pés não estão visíveis porque ela deve ficar imóvel, devido à sua passividade.
O poder da PAPISA é a água: o poder frio, escuro, fluido da Lua. Ela governa pela lenta persistência, pelo amor e pela paciência feminina. A mulher, de fato, é água: marémer eMaria. Mergulhando nas profundezas da mulher, o homem chega a conhecer-se. Olhando para as imagens no inconsciente profundo, chegamos a nos conhecer.
A Lua como símbolo da Uroboros patriarcal é ao mesmo tempo aquela que nasceu da mulher e o princípio espiritual que a fecunda. É o touro fálico e a espada do herói, mas também é o espírito da loucura, companheiro da Grande Mãe destruidora, que faz aqueles que conquistam tornarem-se lunáticos e dementes (Lua = princípio masculino de Saturno).
A maior complexidade da mulher com seu inconsciente leva-a para um estado de irracionalidade. A menos que controlada pela consciência, apresenta desvantagem de estar aberta a qualquer coisa, revelando um lado sombrio de sua sensibilidade.
A quarta casa está instintivamente ligada ao signo de Câncer. No tarô, o Arcano VIII – A JUSTIÇA representa o julgamento imposto ao homem, através de sua consciência profunda para avaliar as conseqüências de seus atos.
Sentada em um trono, a grande figura feminina (Têmis ou Maat) simboliza o poder feminino sobre-humano. A espada representa uma sanção aplicada com inteligência e seu espírito de vingança. Pode nos lembrar a espada flamejante às portas do Éden e nos avisar que nunca mais podemos voltar à inocência da infância. Precisamos agora assumir a responsabilidade de qualquer conhecimento do bem e do mal que tenhamos adquirido.
A balança denota sua capacidade de julgar. Dá a entender a relatividade de toda a experiência humana e a necessidade de pesar cada evento individual como um fenômeno único (gnose).
A psique (e o corpo) opera de acordo com as leis de compensação. O inconsciente sempre age de maneira compensativa em relação à consciência. Jung coloca que nossos sonhos são complementares ao ponto de vista do ego. Não se busca a perfeição e sim o equilíbrio.
James Hillman também faz uma correlação entre justiça e sentimento: “Julgar é uma questão de sentimentos. Uma decisão salomônica não é um golpe brilhante através do nó das complexidades, mas um julgamento feito pelo sentimento.”
Em sua “Resposta a Jô”, Jung destaca que Deus precisa do homem, assim como, o homem necessita de Deus. São os pratos de uma série de balanças que, juntas, criam o Equilíbrio Uno.
VII – A crescente independência do ego (o surgimento dos conflitos)
 O desenvolvimento que leva o ego da fase matriarcal para a patriarcal é simbolizado pelo “desmame”. Nesta nova fase ocorre uma adaptação, sob a supervisão da mãe, do ritmo interior do crescimento da criança. Segundo o psicólogo J. L. Moreno, aqui se estabelece uma “brecha entre fantasia e realidade.”
A tendência natural da criança para a autonomia é enfatizada, assim como, um crescente prazer que desfruta em seu próprio corpo. O elemento negativo da perda deve ser compensado com um ganho.
Na medida em que o indivíduo entra na adolescência, ocorre o natural afastamento da mãe. O desenvolvimento psíquico revela-se através de uma posição ativa, do uso de controle sobre o objeto, da agressividade, do sadismo. Ocorre um investimento energético maior sobre o ego. Há uma busca por afirmação própria. A noção de individualidade baseia-se fundamentalmente na invalidação do outro.
Aqui a personalidade já se mostra capaz de estabelecer objetivos e metas. Mas esta busca domina toda a personalidade e constitui a única forma de relacionamento com o mundo. É feita de maneira obstinada e agressiva. Há o pressuposto que o ego tenha atingido certa autonomia e capacidade produtiva. As dificuldades aparecem nos relacionamentos afetivos mais íntimos. Esta personalidade desconhece como se relacionar com o outro de forma espontânea e natural que não esteja vinculada ao desempenho de um papel ou função.
O ego caçador possui uma atitude positiva, mais ativa, característica da juventude. As preocupações com o desempenho e com o fazer podem tomar o lugar do ser, do verdadeiro Self. O indivíduo está sempre buscando reconhecimento pelos seus feitos para garantir o sentimento de auto-estima.
É um ser vulnerável (imagem onipotente da perfeição). Tem constante necessidade de se colocar em prova. Sair ileso garante-lhe sua imunidade a ataques. Entretanto, sua auto-estima e confiança não se sustentam sem o apoio externo. Por outro lado, a agressividade contra o objeto mostra a raiva que sente pela dependência e aprovação do outro. Esta agressividade é resultante do direcionamento da pulsão de morte contra o ego, com a finalidade de reduzir ao máximo as tensões e voltar ao estado narcísico de paz (quadratura – 90° – entre a quinta e a oitava casa). Esta personalidade sente que a existência do outro invalida a sua, pois deseja concentrar em si toda a bondade, poder e perfeição.
A quinta casa é a da criatividade. Nela o ego-herói se prepara para a caminhada rumo à sua lenda pessoal. É a casa do Sol, mas também é quando o relógio registra entre 20 e 22 horas. Aqui pode residir o Leão bandido que como o ego caçador afirma que sua existência só pode ser possível através da inexistência do outro.
O signo de Leão se relaciona com o Arcano IX – O EREMITA.
A lanterna que segura na mão direita indica que a busca da verdade deve efetuar-se no domínio da luz e da consciência.
A roupa vermelha sob o manto azul indica que o homem fica impregnado na matéria e é nela que deve buscar a verdade.
Na terminologia junguiana, o Eremita representa o Velho Sábio arquetípico. Nos mitos e contos de fadas, este Sábio costuma aparecer trazendo luz e esperança para o herói que se perdeu.
A necessidade predominante do ser humano é encontrar significado e propósito na vida. O Velho Sábio está só. Em grego, solitário ou solteiro traduz-se por “unificado”, No Evangelho de Tomás: “Eu (Jesus) digo isso – quando (uma pessoa) se encontra solitária, estará cheia de luz; mas quando se está dividida, estará cheia de trevas.”
O Eremita orienta-se para a ação, mas com reflexão. Sua marcha tende para a calma e para a meditação envolve, por sua posição de pé, um trabalho acentuado.
O nosso Sol, luminar maior, está relacionado com o Arcano XI – A FORÇA.
A denominação do Arcano mostra o domínio pessoal sobre a matéria. A forma em ∞ de seu chapéu significa que ele abrange o universo inteiro e assegura sua força através do equilíbrio (chapéu semelhante ao Mago).
O Tarô de Marselha apresenta a figura humana como feminina. Atuará como mediador entre o ego do herói e as forças mais primitivas da sua psique. O seu poder reside nas mãos que, sem medo, agarram as mandíbulas do leão, indicando que a sua magia é mais humana. O seu misterioso poder reside em seu próprio ser.
Várias histórias (A Bela e a Fera, por exemplo) dramatizam a verdade em que a consciência humana reconhece e aceita sua natureza primitiva, libertando-se do poder autônomo do instinto, transformando-o.
Aqui, o leão dourado representa o instinto (podemos ser engolidos pelo afeto). Os animais selvagens costumam simbolizar o auto-desenvolvimento porque são fiéis à sua natureza instintiva. O leão é um símbolo apropriado do poder energizante do Sol central da psique, o Eu.
VIII – O encontro com o Self Corporal e o problema da polarização do bem e do mal
 O impulso cognitivo é uma forma essencialmente humana de domínio do mundo e que determina essencialmente o desenvolvimento da criança. A consciência do homem, cujo interior a imagem do mundo faz parte, é um instrumento de formação ativa que apreende e compreende o mundo.
Um estágio importante no desenvolvimento da criança começa quando parte do sistema nervoso motor completa seu amadurecimento e pode ser subordinado à vontade do ego. Neste momento ocorrem as primeiras manifestações de um ego independente e a aquisição da postura ereta.
A expressão do Self como Self Corporal se manifesta através das substâncias corporais, tais como, cabelos, unhas, urina, fezes, sangue menstrual, mas também como saliva, suor, esperma e sangue.
O excremento, cor da terra, enterrado no solo proporciona o crescimento e o surgimento de uma nova vida. No mundo vegetativo, presidido pela Grande Deusa – Senhora da vida de todas as plantas – a morte e a podridão não são sentidas como hostis à vida. Fazem parte de um processo contínuo. A importância do indivíduo não está ainda super-enfatizada.
Entretanto, quando a criança começa a se sentar, o processo cognitivo desloca-se para a cabeça. O pólo do ego-cabeça emancipa-se como o centro da personalidade. A psique da criança afasta-se da terra e volta-se para o céu.
Se a relação com a mãe é positiva, existe um equilíbrio entre o ego e o “tu” social. Segundo J. L. Moreno, neste estágio ocorre a “pré-inversão de papéis, onde a criança realiza o papel do Tu, mas sem a reciprocidade. É um treinamento protegido para conseguir, mais tarde, a inversão dos papéis.”
Nesta fase ocorre a polarização da psique. De um lado, a cabeça, a vontade, a consciência e do outro lado, o mundo conflitante do inconsciente e seus instintos – Deméter e Perséfone.
Essa polarização implica numa reavaliação do mundo, assim como, do corpo e de suas funções. É a base da primeira fase do Superego, isto é, do desenvolvimento de uma autoridade moral na psique que pode entrar em conflito com a outra parte da psique – pólo inferior de comunicação (Gêmeos).
Assim, a experiência do pecado original tem relação com o elemento anima da natureza humana – homem impuro, nascido “inter urinas et faeces”.
Possuir um corpo significa ter um pólo negativo, inferior, ao passo que os anjos só possuem um pólo superior, o da cabeça. Neste sentido, o pólo corporal (anal) fica identificado com os rituais obrigatórios da eliminação do mal, na qual o combatente desenvolve uma nova forma de mal em si próprio.
O Self que lhe confere segurança é substituído por um Superego super-exigente que induz não apenas à incerteza, mas também à culpa, porque o indivíduo não consegue viver à altura de suas solicitações (motivado pela sua relação com o Mundo). A ansiedade que emerge manifesta-se no medo de ser infectado pelo mal e na incapacidade de eliminá-lo. Infecção, doença, demônio e morte são símbolos para este mundo inferior que ameaça por em perigo a existência superior da cabeça e do ego.
Numa relação positiva, esta fase se caracteriza pela oposição do ativo ao passivo – a separação dos “Pais do Mundo” – que culmina na percepção entre masculino e feminino (sétima casa astrológica).
O signo de Virgem representa o desenvolvimento do ego no sentido de convívio com a realidade. É uma característica dos nativos deste signo a crítica aos outros. Isto pode demonstrar não só uma baixa estima, como também, uma identidade frágil que leva o indivíduo a se mostrar intolerante à crítica. O encontro de Narciso no seu mito com a ninfa Eco revela sua dificuldade em experimentar sua capacidade empática com o outro. Narciso não consegue dar a Eco o que ela deseja. Ser amado significa ter valor e ser reconhecido por este valor. Narciso só pode se relacionar com Eco quando esta adquire para ele a função de um objeto independente e autônomo. Neste momento, Narciso precisará se reconhecer e se auto-refletir, aumentando seu auto-conhecimento. Este aprofundamento requer a retirada das partes boas e más da personalidade projetadas no outro. Narciso não vê Eco, pois sua essência está encoberta pelo eco de sua voz. Narciso agora, está condenado a se ver.
Na sexta casa, a de Virgem, o campo eletromagnético propõe substancial perda, inexistência ou nulidade. É um local de dor ou de crise, caso o homem não saiba como enfrentá-la. Nela a alma e o corpo percorrem o Passo do Eremita, onde Virgem em gestação prepara o ego para o grande encontro com o amor.
O Arcano X – A RODA DA FORTUNA – simboliza o signo de Virgem no Tarô.
Este Arcano apresenta três fases: a primeira, um macaco descendo, representa a evolução descendente, fase instintiva, que não foi guiada pela inteligência, mas por um ardil ou por hábil adaptação instintiva à vida física. Na segunda, o cão nos mostra o primeiro degrau da evolução ascendente, o primeiro vislumbre de inteligência, e por isso deve ser amarelo. Na terceira, o personagem em forma de esfinge, indica-nos o destino ignorado do homem no decorrer de sua evolução, a aspiração por um tempo desconhecido que ele tem que decifrar.
A roda engloba a doutrina central de todas as religiões de mistério, segundo a qual o Filho divino desce à Terra para tornar-se escravo da Roda, da sua natureza da carne. É a liberdade dessa Roda da Vida que ele precisa conquistar e então recuperar sua harmonia. É a descida do Espírito na matéria. Em termos psicológicos, o ego nasce, cria forças, começa a livrar-se da dependência dos arquétipos maternos e paternos e estabelece-se no mundo.
O Arcano XXI – O MUNDO – simboliza o planeta Mercúrio, regente do signo de Virgem. Alguns astrólogos, como Liz Greene, acreditam na existência de um futuro regente para o signo de Virgem. No início da década de 90, foi descoberto por um casal da Universidade do Havaí o objeto mais distante do sistema solar. É possivelmente um cometa, de cor avermelhada, tratando-se de um corpo muito antigo. Estão realizando estudos no sentido de determinar sua órbita. Particularmente denominei este objeto de “Monogene”, filho único, aquele que possui a capacidade de integrar nossos diversos mundos.
O personagem central do Arcano é andrógino. Sua perna esquerda está dobrada para indicar que ele está ativo e não imóvel. O pé direito mostra que ele caminha sobre um apoio. Na mão direita ele segura uma varinha indicando seu poder sobre a natureza. Na esquerda existe um filtro, criador da ilusão na natureza, indicando que o homem pode ter tanto a ilusão no amor, quanto com a espiritualidade.
As quatro figuras nas bordas do Arcano representam (duas) forças superiores e forças inferiores estabilizadas e equilibradas na matéria (outras duas). A Águia representa a sabedoria. O Ser, no alto à esquerda, tem uma aparência humana evocando suas ligações com a humanidade. O Touro é o símbolo da força geradora do plano físico. O Leão é o símbolo da força inteligente que preside a fecundação universal.
Embora andrógina, a figura é retratada como predominantemente feminina. No homem, a iniciação vem através da anima; na mulher, o eu é personificado em sonhos. O nível mais profundo do ser humano, é o mundo.
O esoterismo alquímico usa a fórmula: “Tudo o que vive provém de um ovo”. Na lâmina temos a figura de um ovo. Isto significa que o resultado do ciclo precedente concentra-se num ovo, para criar uma nova manifestação.
IX – Uma nova manifestação – o Conhecimento do Outro
 No período de dominação da Grande Mãe, o ego é ainda inteiramente dependente e esta é a portadora do Falo. No desenvolvimento do princípio masculino, o ego vai se identificando com o princípio fálico, instintivo sexual e ativo-guerreiro. Somente no estágio solar, quando o fálico aparece como o “falo-espírito” e como origem do vento (pensamento) é que o princípio masculino adquire sua potência suprema geradora-espiritual.
Nas iniciações masculinas, objetiva-se a realização de um “segundo nascimento”, contrário à natureza. O iniciado é parido por um ser transpessoal cujo simbolismo está ligado à figura arquetípica do Pai. Para o iniciado, a masculinidade superior, valores masculinos relativos à cultura, é a suprema autoridade (Superego).
Lacan localiza a entrada do outro, que é o pai e corresponde ao Édipo e à aquisição e uso da linguagem. No ponto astrológico descendente, ocorre o sopro divino que determina: “– E faz-se o homem!” A linguagem possibilita a ordenação do mundo através dos signos verbais. Torna possível a fixação da identidade e o início das relações sociais.
A casa de Libra é referenciada ao elemento ar e conseqüentemente às imagens de persona, que faz parte do desenvolvimento psíquico do indivíduo. A dificuldade no estabelecimento da persona revela uma imaturidade do ego, que se sente incapaz de se auto-representar socialmente. Nos distúrbios narcísicos, a persona substitui o egoocorrendo uma idealização da imagem do eu.
O olho da mãe é o primeiro espelho que confirma a existência da criança. Ser refletido é ser compreendido e visto de uma forma inteira. Ser visto é ter importância, é ser amado. A mãe quando é capaz de refletir a totalidade da criança, permite que esta se reconheça como uma unidade.
O indivíduo adquire maior importância quando pode se auto refletir. O ego agora já pode se indagar porque descobriu a existência do outro e a sua. Nasceu sua reflexão. Agora ele busca a si e ao outro.
 O ego dobra-se sobre si mesmo, num movimento sutil da alma. Com o aumento da reflexão, o indivíduo amplia o conhecimento do mundo externo e interno. As luzes e as sombras se apresentam diante de si – o dia e a noite, o tempo e o espaço. A balança de Libra oscila entre estas dialéticas. É aqui que se aprende a presença da mutabilidade das formas.
A autoconsciência traz a noção da continuidade do eu e de sua finitude. Narciso, no seu mito, despertado de sua Narké, descobre-se num mundo de acontecimentos sucessivos, claros e escuros. O olhar para si mesmo o fere e produz uma nova divisão: o ser que reflete sobre seu próprio ser e se sente dividido em duas igualdades. O outro terá sempre o papel psicológico de espelho. O homem e o mundo estão sempre em eterno diálogo de reflexão.
O ego marca a sua diferenciação do mundo. Ao entrar na sétima casa, a de Libra, o indivíduo rompe o seu cordão umbilical e se projeta no mundo.
No Tarô, o Arcano III – A IMPERATRIZ, simboliza o planeta Vênus, regente do signo de Libra.
A Imperatriz representa a força fecunda da matéria posta à disposição do ser humano para suas criações.
Com a Papisa (Arcano II), o espírito desce à matéria para fazer-se carne; com a Imperatriz, o espírito nasce para a realidade externa como o Filho do Homem e, finalmente, torna a subir ao céu como o Filho Espiritual, o Redentor. A Papisa é a paciência e espera (passiva); a Imperatriz é ação e conclusão. Vênus no seu aspecto espiritual é fálica (falo solar) em oposição a Marte, o falo instintivo (falo ctônico).
 Uma das principais funções da Imperatriz é ligar as energias primárias yin yang a fim de dar-lhes um corpo no mundo da experiência sensorial. A Imperatriz nos liga a uma nova dimensão de percepção: é muito mais através de sua compreensão intuitiva do que através da lógica masculina que o Espírito salta para o espaço externo.
Através do tabu do incesto é que a criança começa a se dar conta da existência de uma conexão espiritual entre sua mãe e seu pai, responsável pela integração da unidade familiar, em oposição à conexão mais natural e instintiva que mantém com seus amigos. Segundo J. L. Moreno, a fase de encontro com o outro se denomina “triangulação”.
O fato de não haver restrição sexual entre mãe e pai é outro mistério para a criança. Daí começa a formar-se em sua psique a imagem do casamento, como sendo o único meio capaz de finalmente satisfazer seus desejos incestuosos.
O tabu do incesto tem também outra finalidade: ao restringir a sexualidade instintiva, ajuda a promover uma diferenciação entre o ego e o “outro”, aspecto fundamental para o desenvolvimento da consciência.
O signo de Libra é simbolizado no Tarô como o Arcano XII – O ENFORCADO.
Com as mãos amarradas atrás das costas, o Enforcado se acha extremamente indefeso. Está nas mãos do Destino. As árvores que o sustentam podem ser equiparadas à Árvore da Vida, nos seus significados masculino e feminino. Para o homem moderno, a consciência situa-se na cabeça. O “outro” é freqüentemente encontrado nas profundezas interiores.
Segundo Lacan, a fase do espelho se ordena em torno do problema da identificação. A percepção da imagem de si mesmo através do corpo fornece a imagem da totalidade da personalidade. A necessidade de percepção do corpo como suporte da integridade do eu fica, neste momento, exacerbada narcisicamente. Ocorre um investimento maior de libido no corpo. A unidade do corpo é uma conquista do ego no processo de desenvolvimento. A coesão do corpo está ligada à percepção do corpo como uma totalidade unificada. A unidade do corpo é a expressão simbólica da individualidade. Assim o amor ao corpo é um estágio primitivo da auto-configuração egóica. Esta percepção corpórea deve ser superada mais tarde. O ego olha-se e ao se ver refletido, sabe que algo ocorreu. Percebe a sua presença no mundo e sua distinção em relação a este. O ego reconhece a si e ao outro.
O motivo do sacrifício, sugerido nos cotos vermelhos das árvores cortadas, insinua que ele deve dar o seu sangue (alma), sacrificar seus dias passados de compreensão e ação. Segundo Jung, “sacrifício” significa “tornar sagrado”.
O Enforcado tem uma oportunidade de aceitar o destino conscientemente e entender-lhe o significado.
Jung observou que toda a vez que o intelecto e a vontade se tornavam inflexíveis e orientados para o poder, a natureza recorria a medidas extremas. Eram criados “becos sem saída” (neuroses e psicoses) não como moléstias que inibem a vida, mas como medidas corretivas, cujo propósito era estabelecer um novo equilíbrio psíquico.
É somente através do consentimento (com o coração e a alma) que o Enforcado restabelece a conexão entre ele e os deuses (seu eu transpessoal). Por intermédio da aceitação da crucificação, o homem coopera com o destino e, em certo sentido, o escolhe.
E quando escolhe o destino, liberta-se dele porque, neste momento, o transcende. Nunca mais poderá voltar à vida pessoal centrada no ego.
 X – O Ego: Morte e Renascimento
 A prova seguinte é chamada “anagnórisis” – o conhecer-se verdadeiramente na sua totalidade – e representa simbolicamente a morte do herói.
Porém antes desta última batalha, o herói tem que se diferenciar de seus semelhantes e viver seu processo de individuação. Segundo Jung, o herói se expõe ao perigo do isolamento dentro de si mesmo. A conquista da diferenciação traz o medo do isolamento, mas a verdadeira individualidade o aproxima dos outros, de forma mais diferenciada, aceitando as diferenças encontradas.
A descoberta da individuação vem acompanhada de uma profunda dor psíquica, um sentimento de solidão. Mas existe também a necessidade de compartilhar experiências. O desejo do encontro, nascido da dor da solidão, impulsiona o ego para o outro. O herói tem de enfrentar a tarefa constante de diferenciar o seu desejo do outro. Há uma tendência que as necessidades apareçam confundidas com as do outro. O desejo de encontro é forte, mas o ego não pode ainda abandonar o apego à sua própria imagem.
O encontro só poderá se realizar através da diferenciação, do autoconhecimento e da aceitação dessa condição. O ego-herói tem que ser extremamente ético consigo mesmo. Neste momento, o herói pode enfrentar dois perigos: a excessiva acomodação aos valores sociais e culturais vigentes, numa tentativa de adaptação, negando sua verdadeira essência e a inflação da personalidade, a onipotência, a busca do prazer, com a negação de qualquer sentido de realidade.
A oitava casa é considerada uma casa de prova. Na escala de Pontos Arábicos é a casa da morte. Está relacionada à operação alquímica de MORTIFICATIO.
O encontro com a realidade exige que o ego vença os desejos regressivos e inflacionários. Entretanto o eixo Ego-Self deve ser mantido para que o crescimento psíquico aconteça. No mito de Narciso, a existência do Self é reconhecida e desejada quando o herói faz o mergulho. Quando o ego restabelece a ligação com o Self, ele sai do estado de alienação e utiliza sua consciência arquetípica simbólica. É o restabelecimento da comunicação viva com o centro arquetípico.
O olhar de Narciso no lago reflete a busca da sua alma. É um olhar introvertido, em busca de uma realidade transpessoal. O herói enfrentará sua última prova. A necessidade de desenvolvimento leva o indivíduo a se confrontar com sua sombra, que é desestruturante para a personalidade. A porta para um maior contato interior pode se dar através do outro. Na relação entre duas pessoas, o masculino e o feminino internos podem ser despertados. O amor possui a função de religação.
O indivíduo que não consegue se relacionar satisfatoriamente com o outro e estabelecer ligações afetivas está muito longe de conseguir uma auto-integração (também com a totalidade da psique). A totalidade só pode ser alcançada pela alma. Segundo Jung, corpos imagos se atraem ansiando pela cura da divisão.
A maior prova da superação da condição narcísica é o estabelecimento da capacidade de amar e de se relacionar consigo e com o outro. Este outro não representa mais ameaça e o indivíduo pode se auto-expressar. Segundo Aldo Carotenuto, o sinal de maturidade é justamente a possibilidade de aceitar a própria pequenez e limitação e o fato de nos sentirmos dependentes.
No Tarô, o planeta Plutão, símbolo da transformação, está representado pelo Arcano XIII – A MORTE.
A figura do Arcano apresenta a Morte em sua forma tradicional, a de um esqueleto com a foice na mão. Sublinha o papel da morte como instrumento da vida. Coroadas ou não, as cabeças caem sob sua foice. Após sua passagem, novas mãos e pés despontam na Terra. O desaparecimento causado pela morte é ilusório.
O Arcano XIII representa as mudanças de estado da consciência do indivíduo que acompanham a passagem de um ciclo completado até a entrada noutro ciclo de natureza diferente.
A Morte retrata o momento em que a pessoa se vê feita em pedaços, desmembrada. O herói leva algum tempo para rejuntar-se e lembrar-se de si mesmo. O desmembramento pode ser compreendido psicologicamente como um processo de transformação que divide um conteúdo inconsciente original para finalidades de assimilação consciente.
O signo de Escorpião encontra-se simbolizado pelo Arcano XIV – A TEMPERANÇA.
O conhecimento do processo de morte e renascimento traz como fruto a compreensão da necessidade de realizar a harmonia dos elementos ativos e passivos da personalidade humana. O Arcano representa o eterno recomeço, o trabalho de adaptação à uma nova atividade.
O Anjo da Temperança mistura os símbolos do espírito e da carne, do masculino e do feminino, do consciente e do inconsciente. Os dois opostos elementais, fogo e água, não podem se confrontar diretamente. Deve haver uma preparação nos escuros recessos da psique. O Anjo preside a este cerimonial.
Os anjos representam na nossa psique experiência internas de natureza mágica, ligando o homem ao mundo arquetípico inconsciente. São transmissores personificados do conteúdo inconsciente. O equilíbrio dos opostos requer paciência e habilidade de um anjo.
Podemos ver nesta carta o princípio da idade de Aquário na psique, conduzindo a redescoberta do homem e do seu mundo.
O Anjo que efetua esta alquimia é denominado Temperança. Temperar significa “trazer para o estado adequado através da mistura”.
XI – O Religare
 Em cada relação existe a dimensão do eterno. Como escreve Aldo Carotenuto, isto ocorre porque um pedaço da eternidade existe efetivamente em toda a relação, assim como existem inexoravelmente a sombra e o destino da morte. Esse desejo e também nossa imaginação são capazes de dilatar, expandir os limites de nossa experiência e inseri-los dentro do universo.
O mergulho de Narciso é um encontro com sua solidão e conseqüentemente com a dor. Quando experenciamos a solidão, nas suas profundezas é que adquirimos um real conhecimento. Nesse momento percebemos que não temos palavras para comunicar aos outros a vivência mais íntima. É no isolamento que a palavra perde o significado de representação.
Este momento se caracteriza por uma falta de pessoas a nossa volta. Ao contrário, quando nos sentimos em contato com os outros, mas não podemos “perceber” a proximidade e a solidariedade destes, abre-se para nós a sensação de um sofrimento interior, um conhecimento trágico do fundamental estado de solidão do ser humano.
As frustrações ativam o mundo das fantasias criativas e como conseqüência, a consciência do estado interior. Adquirir tal consciência significa compreender a verdade pessoal.
O momento crucial da existência é quando podemos criar uma forma de compreensão do mundo: elaborar a satisfação através do imaginário resultando daí a descoberta do mundo interior e a compreensão da vida externa segundo a estrutura psicológica.
Ao encontrarmos esta nova “filosofia” descobrimos também que o mundo externo não nos pertence. É tempo então de aceitarmos a nós mesmos e a presença só aparente dos outros. Nos momentos difíceis nos encontramos sempre sozinhos e o outro não tem o poder de nos ajudar.
As “escolas de iniciação” divergem dos itinerários a serem percorridos, mas concordam com o objetivo. Pode se chamar serenidade, indiferença ou nirvana. Indica sempre uma condição humana de emancipação de paixões, desejos e necessidades.
A solidão se torna uma abertura para a conquista de novos horizontes. A percepção da individualidade tem origem no sentimento de solidão.
No processo de desenvolvimento, o indivíduo tem dificuldade de enfrentar as ambivalências da existência, a cisão pragmática do bem e do mal, definidos por Jung como um casal arquetípico, expressos nas imagens de Deus e do Diabo ou como nos ensina o Tarô: o Imperador e o Diabo (Arcanos IV e XV). A solução para o problema é aceitar a contradição: o objetivo deve ser atingido por duas direções completamente diferentes.
Em Sagitário e na nona casa se inicia a expansão da consciência e da imaginação. Aqui se propõe um caminho de luz. Entretanto, se não for compreendido, pode gerar um estado de entropia ou negação. Temos visto em nossa experiência astrológica, um significativo número de consulentes com o Sol nesta casa ou importante formação planetária, com uma forte tendência a introspecção ou depressão.
O Arcano IV – O IMPERADOR representa o planeta Júpiter. Neste Arcano, o Imperador deixa o reino matriarcal, da Imperatriz, com seus ciclos automáticos de nascimento, crescimento e decadência. Começa o mundo patriarcal da função criativa que inicia o domínio masculino do espírito sobre a natureza. É a personificação do Logos, aspecto arquetípico do Pai.
Está sentado à vontade, com pernas cruzadas, oferecendo sem medo, o perfil do seu lado esquerdo, ou seja, do seu lado inconsciente. O seu reino é de paz. Não teme ataques do exterior. O monarca não veste armadura e não traz espada na cinta.
Em nossas vidas, a transição da fase matriarcal para a patriarcal não é fácil. Deixar o mundo de proteção para enfrentar a exposição e as responsabilidades da idade adulta representa uma difícil tarefa. A vida na comunidade é o passo intermediário indispensável entre a identidade inconsciente e o ponto de vista mais consciente da idade adulta.
Necessitamos experimentar-nos como membro de um grupo que possua expressiva e justa figura de autoridade. O Imperador transcende o Pai meramente pessoal.
Na psicologia junguiana, o número três também traz o quatro, resultando em novo sentimento de unidade. Suas quatro funções representam os meios característicos com que funciona a psique. As duas funções pela quais aprendemos o mundo foram chamadas de sensação e intuição. Jung as caracterizou como funções irracionais. As outras duas,pensamento sentimento são funções racionais porque descrevem os modos com que ordenamos e avaliamos nossa experiência.
O Arcano XV – O DIABO, representa o signo de Sagitário.
Nesta lâmina temos Satanás. Dizem que seu pecado foi a arrogância e o orgulho. Ele teria uma natureza prepotente, ambição em demasia e um senso inflado do próprio valor. Não obstante, possuía muito encanto e considerável influência.
Tinha inveja de todo o mundo, principalmente da espécie humana. Apresenta, na lâmina um estranho conglomerado de partes. Usa armações de veado, garras de ave de rapina e asas de morcego. Diz-se homem, mas possui seios de mulher. É andrógino. Usa um peitoral que lhe proporciona escassa proteção. Simbolicamente indica que Satanás utiliza a ingenuidade e a inocência para abri-lhe os caminhos, com seus encantos, até o nosso jardim.
O Diabo com asas de morcego voa à noite. É o momento em que as luzes apagam e a mente racional adormece. Jung descreve este personagem como o lado grotesco e sinistro do inconsciente que, por não o conhecermos, permanece em seu estado selvagem original.
Entretanto Lúcifer é o portador da Luz. Sem o envolvimento diabólico nos problemas cruciais do bem e do mal, não teríamos consciência do ego, nem a oportunidade de transcendê-lo através da compreensão. É uma situação de extremo sofrimento perceber que a relação com o mundo faz aparecer a pior parte de nós mesmos.
Depois de ter provado o conhecimento do bem e do mal enfrentamos, para sempre, a responsabilidade da escolha moral. Estamos “condenados a ser livres”, segundo Jean-Paul Sartre. Enquanto nossa obediência a um código moral for automático, não seremos livres. Enquanto nos recusamos a enfrentar nossos próprios diabos interiores, seja qual a forma que ele possa assumir, não seremos humanos.
XII – Capricórnio e o medo de viver
 Uma pessoa é julgada pelo uso que faz de sua força, não pelo fato de que tenha ou não, afirma Carotenuto. Capricórnio representa a realização. Com a conquista do conhecimento e da consciência, adquirimos o poder. Na nossa sociedade o sucesso deve em geral ser medido pelo fracasso do outro. Entretanto, no âmago de nossa psique, reside o espectro do fracasso.
Aquele que detém o poder possui autoridade e um dos princípios fundamentais para o que pretende exercê-la está na percepção da própria incapacidade. Nenhuma pessoa realmente criativa pode afirmar sua supremacia sobre o outro. Entretanto, ao perceber a própria incapacidade de realização, o indivíduo vê nascer o impulso para o domínio cuja função exclusiva é a de bloquear a criatividade.
Para aquele que tem a necessidade de ser autoritário, o ato criativo é visto como uma grave ferida. Todo ato de domínio com base na incapacidade de criar e reprimir a originalidade do outro se liga, intimamente, a problemática da morte. Somente quem aceita a relação com os outros pode viver sua autonomia.
A energia instintiva instalada na casa 10, a de Capricórnio, impele o indivíduo em sua pulsão criativa, orientando-o no seu processo vocacional. Entretanto o que poderia ser felicidade, transforma-se em poder. O senso de existência tende a não brotar do indivíduo em si, mas de sua necessidade de estar fundamentalmente ligado à presença de uma platéia, onde exerce influência para caracterizar sua “impressão de existir”. A necessidade de poder se expressa no desejo de forjar o destino do outro.
A sua auto-imagem se torna divina no momento que perde sua capacidade crítica e atinge a dimensão de “Personalidade Mana”, termo utilizado por Jung para descrever sua onipotência. Qualquer busca a este tipo de poder nasce do desejo de superar uma profunda incerteza: o medo de viver.
Em Capricórnio se constela o medo de crescer e se tornar consciente e responsável pela própria ação. O poder liberta das necessidades, mas ao fazê-lo, leva à morte, porque a falta de desejo é a morte. A casa de Capricórnio é a casa do desejo que deve se tornar consciente. Mas para conhecê-lo devemos ter a coragem de passar através de nosso próprio desespero. Somente depois de enfrentá-lo, podemos tentar falar e fazer os outros participarem de nossa experiência.
O arcano XVI – A TORRE nos liga intimamente com o signo de Capricórnio.
É também chamada a CASA DE DEUS. Retrata duas figuras humanas que estão sendo lançadas de uma torre atingida por um raio. Esta, não foi demolida, mas a língua de um relâmpago fez pular fora a coroa de ouro que lhe servia de teto.
Simbolicamente, a Torre teria sido construída para ligar o espírito à matéria. Uma escada onde os deuses poderiam descer e os homens subirem. Uma correspondência entre as ordens celestes e terrenas. Os dois que ergueram o edifício não reconheciam autoridade alguma acima de sua própria criação.
Psicologicamente, muitos de nós vivemos no “ar”, aprisionados em torres ideológicas construídas com palavras e idéias. Um sistema rígido construído desta maneira, nos torna prisioneiros. A libertação pode assumir a forma grave de doença, uma depressão, etc.
As duas figuras da lâmina, temendo as complexidades caóticas e a responsabilidade individual envolvida na escolha moral, haviam se retirado para um rígido sistema de filosofia, cujas leis gerais e concretas determinavam que todas as decisões fossem tomadas automaticamente. No Arcano, as duas pessoas são salvas da destruição psicológica e libertados da prisão do seu orgulho egocentrista.
No Arcano XX – O JULGAMENTO está simbolizado o planeta Saturno.
Um grande anjo com uma trombeta de ouro aparece no céu, trazendo uma bandeira brasonada com uma cruz de ouro. Debaixo dele estão três figuras humanas nuas, uma das quais se ergue do túmulo. Assim como no Juízo Final, os justos serão chamados à vida celestial e os maus lançados no inferno. Psicologicamente, serão agora chamados a ingressar numa nova dimensão de percepção, até então desconhecida.
No Julgamento, a figura central percebe conscientemente e ouve o chamado (Saturno rege a audição). A música harmoniza nosso espírito com o Universo.
Neste Arcano, o que está sendo libertado do aprisionamento solitário não está só. Se falhar em cumprir as novas obrigações, poderá voltar para a prisão.
Quando a libido deixa o mundo superior da luz, seja por decisão individual, seja pelo declínio da energia vital, afunda de novo nas próprias profundezas, na fonte da qual fluiu outrora, e volta ao ponto de corte, o umbigo, através do qual, certa feita, entrou em nosso corpo. O ponto de corte é chamado “a mãe”, pois foi partindo dela que a fonte da libido chegou a nós. Por conseguinte, quando há algum grande trabalho para ser feito, do qual o ser humano se esquiva, duvidando da própria força, a sua libido volta para aquela fonte – e esse é o momento perigoso, o momento da decisão entre a destruição e a nova vida. Se a libido permanecer presa no país das maravilhas do mundo interior, o ser humano torna-se mera sombra no mundo superior: não é mais do que um homem morto ou gravemente enfermo. Mas se a libido conseguir se libertar e lutar para chegar outra vez ao mundo superior, ocorre um milagre, pois a descida ao mundo inferior terá sido um rejuvenescimento para a libido, e da sua morte aparente despertou uma nova fertilidade.
Aqui ocorre a morte do velho ego e sua ressurreição numa nova forma. Nossa meta deve ser uma transformação consciente e evolutiva.
XIII – Aquário e o Caminho Individual
 A autêntica originalidade se estrutura no conhecimento da própria existência. Nossa individualidade requer um esforço e um trabalho contra as próprias leis da criação. Nascemos “inconscientes” e em nossa desatenção acontece um endurecimento de nosso nível de civilização psicológica, tornando-nos predadores e agressivos.
O sentimento de insatisfação é uma queixa de nossa psique e nos faz perceber nossa existência interior. O primeiro passo é aceitar a dor assumindo a responsabilidade do que encontramos. As dificuldades são elementos estruturadores da vida. A presença de obstáculos nos impõe o encontro com novos caminhos. Existe aí, sempre, o risco de errar. No ato de abrir caminho, novas regras deverão ser aprendidas e o erro sempre ser considerado: o caminho individual tem sempre inúmeras possibilidades que não nos oferecem a certeza sobre a via que deve ser percorrida.
A existência só é percebida nos momentos de dúvida e ninguém pode nos sugerir a atitude a tomar. Viver esta renúncia é abandonar as setas indicadoras e transferir para a nossa interioridade toda a polaridade e contradição.
Isto implica em um trabalho sem interferências externas. Só a solidão é a testemunha de nosso drama interior. Isto implica em solução psicológica que prescinde de confirmações externas, só alcançável em idade madura. Lembramos que na metade do ciclo do planeta Urano – em torno dos 42 anos – este planeta é colocado em confronto (oposição) com a sua posição natal.
Entretanto, quando nos colocamos neste estágio de ressonância interior, não deixamos de experimentar um desejo voltado para as referências externas. Sentimos falta das estruturas familiares. Perdemos quem pensa por nós. Isto pode gerar uma ansiedade, pode assumir a conotação de um medo mais geral de viver. Este momento, pode se traduzir pela sensação de não agüentar mais ir adiante. Esta dicotomia entre o natural e o cultural deve ser aceita, transformando o que for possível e aceitando-se o que não pode ser modificado.
O medo de enfrentar o mundo é o medo que nos confrontemos com suas normas. Tememos expor-nos no plano cultural e sentimos, de forma aguda, o perigo do “juízo” ou do “julgamento”. Aqui, Prometeu consegue se livrar do castigo porque conhece um “segredo”, advindo do processo cultural básico: toda criança é produto de uma relação masculino/feminino. Ao confiá-lo a Zeus, Prometeu obteve sua libertação, mas conheceu a sua culpa por ter quebrado as normas que lhes foram confiadas pelas Grandes Mães.
O núcleo deste problema nos leva a entender a idealização de nossos desejos – o mesmo que fez Prometeu roubar o fogo de Zeus para dá-lo aos homens. Há um profundo desejo do indivíduo em atribuir a si possibilidades infinitas.
Para esta projeção de onipotência, a solução consiste na compreensão de que a vida deve ser harmonizada por relações positivas e aquelas que nos infundem o medo.
O Arcano XVII, A ESTRELA refere-se a divisão necessária do pessoal e do transpessoal, enquanto que o Arcano XVIII, A LUA, nos fornece a visão da culpa Aquariana.
O Arcano XVII, A ESTRELA expõe a influência de Urano sobre o nosso ego.
A mulher ajoelhada à beira de um rio despeja água em duas urnas, de sorte que um jato de água flui de volta para o rio e o outro cai na terra. Ela aparece no ponto em que a água viva do inconsciente coletivo toca a terra da realidade humana individual.
Psicologicamente, a figura ajoelhada parece estar dividindo e separando introvisões acessíveis à consciência total, separando o pessoal do transpessoal. Aspectos da psique, anteriormente aprisionados no interior de paredes de pedra e agora liberados, descerão ao solo onde poderão começar a operar de maneira mais realística.
O Arcano XVII também tem título de “Spes” (a esperança). Um centro estabilizador ou imagem da totalidade surge em sonhos e visões durante os períodos de caos e confusão, que se seguem tipicamente a acontecimentos catastróficos.
Alguns textos alquímicos mostram uma estrela gigante fixa, descrevendo o processo de iluminação. Jung sustenta que a salvação do homem reside nas profundezas da sua psique e que devemos trabalhar de forma individual para descobrir e libertar esta essência do interior de nossa natureza.
As duas árvores no Arcano XVII nos relembram a Árvore da Vida e a do Conhecimento do Bem e do Mal. Representam impulsos gêmeos enraizados na psique humana. Um que nos leva a viver a vida e o outro que nos leva a conhecer a vida.
No Arcano XVIII – A LUA, encontramos simbolizado o signo de Aquário.
O Arcano XVIII mostra uma paisagem desolada, vista no escuro da Lua. Um grande lagostim, com as garras estendidas, nas águas sombrias, parece barrar-nos o caminho. Do outro lado, dois cães ladram furiosos e guardam o acesso às duas torres de ouro que marcam a entrada da Cidade Eterna, destino do herói.
O ego mergulha fundo na depressão, pois neste Arcano ninguém aparece para ajudá-lo a enfrentar a escuridão. Psicologicamente, significa que ele perdeu o contato com seus aspectos do eu humano. Afundado no reino animal, está submerso no inconsciente, como o lagostim aprisionado no fosso. Nenhuma estrela-guia lhe ilumina o céu. É o momento mais desolador de sua jornada.
Deixando para trás o mundo familiar, precisa aventurar-se às cegas, sem nenhuma garantia de alcançar as torres de ouro. A deusa Lua é feiticeira e encantadora. Pode levar o homem à loucura. Um enfrentamento desta natureza pode significar morte espiritual ou renascimento.
Na medida em que o herói se entrega ao encantamento da paisagem lunar, o horrendo ladrar dos animais, parece menos ameaçador. Descer às profundezas significa ser privado da costumeira orientação diurna. Só podemos ser guiados e salvos por intermédio do conhecimento instintual.Simbolicamente, a Lua não se revela para a curiosidade intelectual do homem. Sua essência é a reflexão. É como se ela pudesse dizer: – Olhe para sua própria Terra (seu interior) e achará a resposta à sua busca impaciente.
XIV – Peixes e a Verdade Escondida
 Nosso desejo de onipotência deve necessariamente confrontar-se com a realidade, escreve Carotenuto. Entretanto, muitas vezes, este desejo fica canalizado na ilusão, da qual a morte é o paradigma completo. O papel primordial da ilusão é produzir efeitos de um removedor de ferrugem. Em um mundo que tende a tornar todas as coisas como positivas, manifestações do ludismo dionisíaco não devem ser classificadas como “passado”, conforme na Astrologia se analisa as questões da casa 12 ou do signo de Peixes, mas sim como aquelas que expressam a possibilidade de perda, do vão, do vazio.
É assim que Dionísio é considerado o deus da Improdutividade. É também o deus da Orgia. Este é um “trabalho” que cada um realiza em si próprio, para retirar os vernizes e para chegar ao homem simples e natural que se pode fundir ao outro e se integrar no Outro. O dionisíaco é uma recuperação da existência que ia se extinguindo, que se sentia ameaçada.
Quando se canaliza o desejo de onipotência para a realidade da vida, necessariamente advém uma relação com o medo. Este tem origem na possibilidade de erro, associado às experiências infantis, onde temos dificuldade de decodificar a “linguagem” pessoal psicológica, que nos remete ao relacionamento com o outro. Na casa 12, se encontra o “trauma” inicial, onde percebemos a existência “contra”nós. Esta dificuldade nos acompanha durante a vida nos impedindo de rever de forma crítica e fazer uma nova tradução dos momentos que se repetem.
Sabemos porém, que a verdadeira dificuldade está dentro de nós, não no exterior, mas na forma como utilizamos nossos instrumentos de observação. A vida não nos é dada de presente, mas deve ser conquistada autonomamente.
Quando Narciso olha no espelho, toma consciência de si mesmo. A percepção clara de nossa interioridade é que nos permite recuperar e exprimir o que o medo nos impede. A maneira como interpretamos a realidade se origina no nosso mundo interior.
Devemos compreender também que a dimensão do medo faz parte da vida, sendo impossível concebê-la sem esta experiência fundamental. As experiências do abandono e da insegurança são questões fundamentais na busca de independência do indivíduo. Quando, na vida adulta, damos “volta ao mundo” para encontrar nosso coração e dar densidade à nossa existência psicológica, o que nos espera não é o Éden, mas o real, com suas contradições e as suas dificuldades.
No final do mito, Narciso no seu mergulho consegue unir aquilo que no início foi separado: a construção da consciência egóica e o processo de individuação. O conhecimento de si mesmo o leva ao conhecimento de Deus. A sua alma torna-se imortal.
O Arcano 0 (zero) – O LOUCO simboliza o planeta Netuno.
O Arcano XIX – O SOL simboliza o signo de Peixes.
O Sol é a fonte da vida de nosso planeta. Cada dia, o Sol traz consigo um novo dia com um novo calor, uma nova luz e novas oportunidades. Regressa, a cada manhã, renovando nossa fé. É um símbolo poderoso através do qual nos religamos ao nosso sol interior. O Sol retrata o momento em que o herói, deixando para sempre o mundo das opiniões estéreis e dos dogmas, ingressa no mundo do conhecimento puro.
O arquétipo da criança se apresenta como duas delas, símbolos de todos os opostos em harmoniosa e criativa interação. São Adão e Eva, esses gêmeos, já diferenciados e encerrados num Éden. Criarão juntos um novo mundo. Cada qual tem um ego e uma conseqüente parte imortal. À percepção do outro sempre aparece com a força de uma revelação.
Aqui se coloca o incesto que, psicologicamente, simboliza a nossa relação conosco, dentro de nossa própria família psíquica.
Jung no final de sua vida afirmou:
“Eros é kosmogonos, um criador, pai e mãe de toda consciência mais elevada. Poderia muito bem ser a primeira condição de toda cognição e a quintessência da própria divindade. Qualquer que seja a interpretação erudita da frase – Deus é amor – as palavras afirmam a Divindade comocomplexio oppositorum. Em minha experiência médica, assim como em minha vida, tenho me deparado constantemente com o mistério do amor, e nunca fui capaz de explicar o que ele é. O amor é a luz e sua escuridão cujo fim não se pode ver. O amor não cessa. O homem pode tentar dar um nome ao amor, atribuindo-lhe todos os nomes que dispõe, mas será sempre vítima de ilusões sem fim. Se dispuser de um grão de sabedoria, deporá as armas e chamará o desconhecido pelo ainda mais desconhecido, ignotumper ignotius, isto é, com o nome de Deus.”
Círculo Iniciático Hermes
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